Dia Internacional da Mulher - as mulheres na pesquisa científica
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“Você está muito bem para uma mulher” foi o que a professora de Física da UFRGS Márcia Barbosa ouviu certa vez ao solicitar uma progressão na carreira como pesquisadora. Vencedora do prêmio L’Oréal Unesco para Mulheres na Ciência, hoje, aos 52 anos ela goza de um prestígio na área que muitos homens adorariam conquistar. Mas até chegar a esse patamar em sua carreira, enfrentou preconceito pelo simples fato de ser uma mulher trabalhando em um meio que já foi amplamente dominado por homens.
“No início, tinha a impressão de que era transparente, pois era sumariamente ignorada nas apresentações de pôster em conferências internacionais. Transparência esta que não observava em meus colegas do sexo masculino. Mas com o tempo descobri estratégias para chamar a atenção para o meu trabalho”. Hoje em dia, segundo Márcia, a situação das mulheres na pesquisa melhorou. E isso é comprovado pelas estatísticas, que demonstram o bom desempenho das pesquisadoras e como ambientes de diversidade de gênero são mais promissores para avanços científicos e tecnológicos.
Esta melhora no ambiente da pesquisa para o sexo feminino é constatado também pela biomédica, recém doutora em medicina, Juliana Giacomazzi. O desejo de descobrir “coisas novas” foi o que a motivou seguir a carreira de pesquisadora, e hoje, aos 29 anos, conta nunca ter sofrido qualquer tipo de preconceito na área. “Nunca sofri com isso, e inclusive tenho percebido que, cada vez mais, as mulheres vêm ocupando espaços e aumentando sua participação no universo da ciência no país. A maioria de meus colegas são mulheres”, conta.
Mulheres assumindo cargos importantes em instituições voltadas à pesquisa e inovação tecnológica também refletem a mudança nos últimos anos. No Rio Grande do Sul, a arquiteta Ghissia Hauser assumiu como secretária adjunta de Ciência, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico (Scit), e, segundo a diretora-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), Nadya Pesce da Silveira, isso representa uma conquista para a área da ciência. “São frutos do engajamento e da luta de várias gerações de mulheres, nas mais diferentes atividades”, afirma.
Algumas políticas adotadas no Brasil para promover a igualdade de gênero nivelaram a disputa entre pesquisadoras e pesquisadores. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) recentemente passou a dar um ano adicional de bolsa de produtividade e pesquisa para pesquisadoras no ano que tiverem um filho. Outra política adotada pelo conselho, esta em parceria com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), possibilita meses adicionais de bolsas para estudantes de doutorado em licença-maternidade.
Elas nas Ciências é outro programa destinado a estimular vocações femininas para a carreira científica e tecnológica. Em parceria com a Embaixada dos Estados Unidos, o CNPq recebeu na sua sede, em Brasília, 92 alunas do ensino médio vindas de todas as regiões do Brasil, para participar de palestras e apresentações sobre mulheres na ciência.
É neste contexto positivo que a física Márcia fala de sua expectativa quanto ao prêmio que receberá da Unesco no dia 28 de março: “Espero que ele sirva para inspirar jovens estudantes do ensino fundamental e médio para seguir a carreira de física ou outras carreiras científicas. O Brasil precisa de cientistas e a ciência precisa de diversidade”.