O anúncio da segunda chamada da Iniciativa Amazônia+10 ocorreu no primeiro dia do Fórum Nacional Consecti & Confap, em Santarém . "É uma ação inédita de conjunção de 25 FAPs para um único programa. Isso é algo que demonstra a importância do que está se tentando resolver, das soluções que estão se tentando criar. O Consecti tem a intenção de participar de maneira mais ativa e mais presente de todas as tomadas de decisão, especialmente aquelas que apontem para a busca de soluções inovadoras, para busca de construção de saídas que realmente transformem a região, que gerem resultados que causem impactos positivos socioeconômicos", disse Silvio Bulhões, presidente do Consecti.
Dalila Andrade Oliveira, da Diretoria de Cooperação Institucional, Internacional e Inovação (DCOI), do CNPq, complementou: "Desta vez estamos buscando uma participação maior na Iniciativa Amazônia+10. Temos construído essa chamada junto com as FAPs, Confap e Consecti. E com ela queremos manifestar a sensibilidade do CNPq para essa agenda tão importante que hoje inclui a questão amazônica."
Embora a Amazônia seja uma das maiores e mais intactas florestas do mundo, ela é também uma das menos conhecidas em termos biológicos. Seu tamanho imenso, sua diversidade e seus acessos limitados fazem com que a tarefa de documentar sua biodiversidade seja extremamente desafiadora.
Segundo artigo publicado em julho na revista Current Biology, pelo projeto Synergize, 40% das áreas da Amazônia estão sendo negligenciadas por pesquisas em ecologia. E um dos motivos dessa distribuição desigual é justamente o alto custo para realizar estudos na região. Por isso, foi estabelecido que o valor mínimo de cada proposta contemplada nesta chamada será de R$ 400 mil (leia mais em: agencia.fapesp.br/41942).
Além da questão espacial, também existem vieses taxonômicos nas pesquisas realizadas até o momento. A maioria dos dados disponíveis é para plantas ou aves. Grupos como borboletas, por exemplo, têm muito menos informações à disposição e grupos enormemente diversos, como fungos e bactérias, são praticamente desconhecidos. A intenção é que a chamada ajude a superar esses gaps. Além disso, o material coletado será catalogado e tombado em instituições amazônicas, como forma de preservação desse patrimônio.
Os projetos submetidos à avaliação devem contar com pesquisadores responsáveis de pelo menos dois dos 19 Estados cujas FAPs aderiram à chamada, sendo que um deles deve obrigatoriamente estar vinculado a instituições com sede nos Estados da Amazônia Legal. O edital também prevê ainda a inclusão na equipe de pesquisa de pelo menos um integrante PIQCT (Povos indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais), detentor do conhecimento tradicional relacionado ao território que será estudado.
"Nós demos um passo importante com essa iniciativa. Muitas vezes, a Amazônia Legal recebia pesquisadores de outros Estados, de outros países e, muitas vezes, os próprios pesquisadores da região não participavam dos projetos – ou atuavam apenas como coadjuvantes. E houve um avanço nesse sentido com o primeiro edital e agora neste. Isso significa um trabalho de parceria, de pesquisa colaborativa, que leva em consideração o que os amazônidas pensam e o que têm", disse Márcia Perales, diretora-presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).
Segundo Allan Kardec, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado do Mato Grosso, a construção conjunta das ações da iniciativa faz toda a diferença no resultado final. "Nós tivemos a oportunidade de acompanhar a preparação dessa chamada, de fazer o debate, de colocar a nossa opinião e trazer nossa equipe técnica para entender o edital. Pudemos dar o nosso olhar e colocar a semente do regionalismo. Estamos muito felizes com a proposta."
"Este projeto nasceu como fruto de uma discussão ampla, de uma iniciativa de muitas mãos e responde um pouco sobre a importância do protagonismo da região, de atender às necessidades da região e enxergar as particularidades locais", disse Marcel do Nascimento Botelho, diretor-presidente da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (FAPESPA).
Dos R$ 59.250.000 previstos nesta chamada, R$ 30 milhões serão alocados pelo CNPq exclusivamente para pesquisadores com vínculo formal com alguma instituição localizada em um dos Estados da Amazônia Legal (Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso).
"A participação igualitária do CNPq vai cumprir algo que desejamos desde o começo do desenho desta iniciativa: que todo recurso de terceiros que fosse mobilizado fosse aplicado na região Norte do país. O papel que o CNPq está cumprindo nesta chamada, com um aporte de um para um em relação ao que as FAPs da Amazônia Legal estão aportando, é excepcional, porque vai permitir financiar na região um volume expressivo de bolsistas e pesquisadores", disse Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP.
Instituições nacionais e internacionais podem se somar à Chamada de Expedições Científicas até o dia 30/10. Em breve, a chamada será disponibilizada com todos os detalhes e prazos para submissão de propostas.
Sobre a Iniciativa Amazônia+10
A Iniciativa Amazônia+10 apoia projetos de pesquisa em colaboração voltados à conservação da biodiversidade e adaptação às mudanças climáticas, à proteção de populações e comunidades tradicionais, aos desafios urbanos e à bioeconomia como política de desenvolvimento econômico na região. Na primeira chamada de propostas, lançada em junho de 2022, foram selecionados 39 projetos de pesquisa na região.
Os estudos apoiados no âmbito da iniciativa devem avançar o conhecimento científico sobre a Amazônia e, conjuntamente com atores relevantes para as formulações de políticas públicas, atrair investimentos públicos e privados de forma a promover o bem-estar das populações da região de forma consistente e a longo prazo.