Professor Jairton Dupont palestrou na FINEP sobre o papel das universidades, da pesquisa no mundo do conhecimento
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De que um universitário precisa para aprender adequadamente e produzir conhecimento para a sociedade? Uma sala com quadro, giz e professor, certo? Errado. Aulas práticas em laboratórios, ateliês e clínicas devem fazer parte da rotina diária do estudante. Sala de aula apenas para complementar e reforçar conteúdos. É o que defende o professor Jairton Dupont, do Departamento de Química Orgânica da UFRGS, palestrante da série Debate FINEP realizada na quarta (27), com o tema "O papel das universidades da pesquisa no mundo do conhecimento".
Dupont foi incisivo em suas críticas ao ensino superior brasileiro: "O país é a 8ª economia do planeta, mas não tem nenhuma universidade no ranking das 100 melhores. É porque aqui, diferente dos Estados Unidos, da França e agora, da China, a pesquisa é apenas tolerada, quando deveria ser o foco do ensino", disse.
Em termos de estrutura orçamentária, não estamos tão atrás dos países desenvolvidos. "O orçamento anual da USP é o equivalente ao do MIT (Instituto Tecnológico de Massachusetts), nos Estados Unidos. Por outro lado, só o estado de Massachusetts conta com 125 mil doutores em atividade. O Brasil todo tem 85 mil", falou o professor. Comparando com nações menos poderosas, Dupont disse que o país também fica para trás: formamos, por ano, 12 mil doutores contra 20 mil da Coréia do Sul.
Se o problema não é dinheiro, tampouco é vocação. De acordo com o Dupont, embora 50% das matrículas no ensino superior sejam na área de Humanas, há boa procura por cursos e pós-graduações em Ciência e Tecnologia. "Há talento e há dinheiro. Precisamos agora abandonar o formato livresco que as universidades latinas adotaram e investir na formação por, pela e através da pesquisa", disse.
Para Dupont, além da reforma estrutural das universidades, se faz necessária, também, uma gestão estratégica do ensino, exatamente como é feito nos EUA. "Cada universidade deveria ter uma missão alinhada com as demandas da nação", sugeriu o professor.
A carência dessa visão no nosso país teria impacto direto inclusive na concessão de patentes, que no Brasil é inexpressiva. Falta densidade de pesquisa e formação de pessoal adequada. Sem isso, o conhecimento gerado é insuficiente para atender à demanda mundial por inovação e tecnologia. Segundo Jaïrton, quem vai fazer inovação no futuro são os alunos de hoje. Para isso é necessário que eles tenham condições de trabalho e pensem "fora da caixa", a partir da pesquisa feita em laboratórios que atendam às necessidades do mercado.
Outro grande entrave deve ser debitado ao Marco Legal, que impõe uma série de restrições à compra de equipamentos e a montagem de laboratórios. Começa pela exigência de uma licitação internacional com toda a complexidade que um procedimento deste tipo exige. Quando finalmente o equipamento chega, às vezes depois de anos, ou a universidade não construiu o prédio ou se construiu não tem infraestrutura adequada ou mão de obra preparada para operar, e a pesquisa fica comprometida. É o conceito de repartição pública.
O modelo ideal, segundo ele, deveria inspirar-se nas grandes universidades mundiais, com financiamento contínuo, ação rápida e controle pelo resultado. No Brasil haveria muito controle e burocracia na concessão de financiamentos, mas nem sempre se acompanha se o projeto teve frutos.
A boa notícia é que, apesar dos problemas, o país vem ampliando sua base científica e conquistando espaço no cenário acadêmico mundial. Em 2000, a Capes concedeu pouco menos de 80 mil bolsas de pós-graduação. Em dez anos, esse número duplicou: foram 150 mil em 2010. Dupont ressaltou, ainda, que 3% dos artigos científicos publicados em 2009 eram de autoria brasileira. "Nesse sentido, estamos crescendo três vezes mais do que a média mundial", declarou.
O encontro teve como debatedor o professor Sidney Lianza, da Escola Politécnica da UFRJ, que ressaltou os fatores históricos e o desafio extra de lidar com os marcantes contrastes regionais em nosso país, em termos de pesquisa e desenvolvimento.